sábado, 23 de outubro de 2010

Reforçadores arbitrários e reforçadores naturais.

O tema, antigo, foi levantado logo no início dos trabalhos de aplicação da análise do comportamento, nos tempos da Modificação do Comportamento (anos 50 e 60), muitas vezes com extrapolação direta de técnicas de controle do comportamento de animais no laboratório para o comportamento humano. Reforçava-se com chocolate, cigarros, etc. No IBAC em Brasília a questão foi discutida recentemente, há um trabalho interessante de Carlos Augusto de Medeiros sobre o assunto. O trabalho gerou discussão entre Gustavo Martins e alunos do IBAC, e a seguinte manifestação de Márcio Borges Moreira, que transcrevo para quem se interessar a participar:



2010/10/5 Gustavo Tozzi Martins
Digníssimos professores Carlos Augusto e Márcio,

É com grande satisfação que entro em contato com os senhores para lhes pedir uma ajuda na aplicação conceitual do que chamamos de reforçamento natural. Essa discussão foi levantada em sala pelos alunos e parece divergir com textos estudados tanto em nível básico quanto textos especializados na formação clínica e educacional. Gostaria de deixar clara minha posição humilde (do latim húmus, terra, no sentido de ter pés no chão) em buscar ajuda sobre um tema que aprendi em um contexto aplicado bastante limitado.

Reforços naturais foram definidos por Ferster (1967) como consequências inerentes à própria atividade realizada pelo sujeito. O qualificador “natural”, dessa forma, indica que as consequências intrínsecas da resposta funcionam como fortalecedores da mesma (Horcones, 1992). Logo, o reforço natural não estaria relacionado à adequação do contexto em que ocorre (ou não), diferenciando dos reforçadores artificiais (arbitrários) somente quanto à sua mediação e programação.

Skinner (1972) considera que certos reforçadores imediatos automáticos como mantenedores de muitas classes de respostas funcionam como reforçadores naturais. Em seu exemplo no qual sustenta que boa parte do aprendizado escolar envolve importantes reforçadores naturais diz o seguinte: “Que tem a escola à sua disposição para reforçar uma criança? Convém olhar para as matérias a serem aprendidas, pois é possível que forneçam considerável reforço automático. As crianças brincam durante horas com brinquedos mecânicos, tintas, tesoura e papel (...) com quase tudo que as informa das modificações substanciais que elas provocam no ambiente e que sejam razoavelmente isento de propriedades aversivas” (Skinner, 1972).

O reforço natural, conforme visto anteriormente, se aproxima muito do conceito de reforçamento automático. O uso de reforçadores naturais na clínica tem sido diferente quanto à natureza dos reforçadores, uma vez que há mediação para os mesmo. O ambiente social, por exemplo, é uma fonte de análise para a capacidade na manutenção dos repertórios trabalhos em consultórios para ampliação de controle para contextos mais naturais do cliente, conforme previsto pelo modelo da FAP, por exemplo (Kohlenberg & Tsai, 2001). Nesse caso reforçamento natural não se aplicaria, pois dependeria da mediação de terceiros (correto esse raciocínio?). Reforçamento automático (ou natural) no comportamento verbal da pessoa (falante), por exemplo, poderia ser a pessoa ficar sob controle do seu timbre de voz enquanto fala com seu interlocutor (ouvinte) e não pelos reforçadores mediados por este.

Posso deduzir então que o que define os reforçadores naturais é a sua própria natureza intrínseca à resposta, tendo o organismo como ambiente primeiro para fonte de reforçadores? Não há neste caso um esvaziamento conceitual ao que chamamos de reforçamento automático?
Conversei com outros profissionais e professores e dúvidas como essas surgiram. Vejo uma boa oportunidade para discutirmos esse assunto de forma a buscarmos pontos relevantes nas definições conceituais trabalhadas em nossa área e, ao mesmo tempo, instigar os alunos a questionarem sobre assuntos que são discutidos na análise do comportamento. Por fim, gostaria de lhes pedir autorização em socializar as discussões para que os alunos possam ter acesso.

Forte abraço,

Gustavo Martins



Oi Gustavo,

Lendo os conceitos apresentados por você as primeiras idéias que me vieram foram:

1. o qualificador "natural" não parece ser um bom termo. Primeiro porque utilizamos ele em ciência como oposto a sobrenatural; segundo porque pode haver uma confusão entre reforço natural versus reforço em uma situação natural (e natural aqui não em oposição a sobrenatural).
2. o qualificador "automático" também é problemático, como qualquer outro que comece com "auto", pois desvia a atenção de variáveis (explicações) alternativas.
3. Não consigo pensar agora em alguma utilidade para distinguir entre natural e arbitrário quando falamos de uma consequência explicita como nota em uma prova, por exemplo. Também não vejo muita utilidade em mediado por outra pessoal ou não.

Acho que o problema prático se coloca quando não somos capazes de identificar uma consequência reforçadora para um determinado comportamento e lançamos do atividade "autoreforçadora". Numa situação como aquelas descritas pelo princípio de premack (em que uma atividade de alta frequência pode ser reforçadora para outra de baixa frequência), em termos de análise funcional, fica muito claro qual é a consequência reforçadora. No entanto, se o comportamento de alta frequencia for, por exemplo, caminhar em uma roda de atividade, teríamos alguma dificuldade em especificar as consequências reforçadoras.

Talvez a questão principal não seja automático ou não, mas o próprio conceito de consequência. De qualquer forma, antes de pensarmos que uma atividade é per si reforçadora, devemos sempre ter em mente que outros princípios comportamentais ao fazermos a análise funcional:
1. Esquemas de reforçamento (imagine que alguém veja as pressões à barra de 20 a 30 em FR 50! Ela provavelmente suporia autoreforçamento);
2. Condicionamento respondente
3. Generalização e
4. Encadeamento de respostas

Bom, não sei se contribuí de alguma forma, mas é isso aí...
Um abraço,
Márcio
(p.s. fique à vontade para compartilhar esse e-mail com quem desejar)

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Análise do Comportamento e a Constituição Cidadã.

Nas vésperas do Natal de 1986 eu era Vice-Reitor da Universidade de Brasília. Estando o Reitor Cristovam Buarque de férias, estava eu no exercício da Reitoria quando minha colega e ex-aluna Deisy das Graças de Souza me trouxe uma cópia de um artigo (Glenn, 1986) que acabara de ser publicado. Era o Metacontingencies in Walden Two da Sigrid Glenn. Estávamos em plena Constituinte, a Constituição que seria aprovada em 1988 estava sendo elaborada. Para acompanhar o processo havia sempre um bom número de professores de universidades federais de quase todos os estados trabalhando no Salão de Atos, adjacente ao Gabinete do Reitor. Era impossível trabalhar na reitoria e não falar da Constituinte. O que me aconteceu era, pois, plenamente previsível – ao ler a definição de metacontingencia e exemplos de metacontingencias cerimoniais e metacontingencias tecnológicas, de uma só vez me veio a concepção da Constituição como metacontingencia.
Esse foi o título do artigo publicado em 1987 e escrito na mesa do reitor entre o Natal e o Ano-Novo de 1986. Neste trabalho aproveito trechos do que foi escrito em 1986 e atualizo outros. Na verdade a constituição não é só uma, mas um conjunto de metacontingencias, umas cerimoniais, outras tecnológicas (Todorov, 1987). Uma lei sempre prescreve alguma conseqüência para algum tipo de comportamento. Ao examinarmos os artigos de uma lei veremos que alguns descrevem uma contingência tríplice completa – situação, comportamento e conseqüência. Em alguns casos, um conjunto de artigos descreve uma metacontingencia – uma serie de contingências comportamentais entrelaçadas que produzem um produto agregado recorrente. Um exemplo no Estatuto da Criança e do Adolescente (Todorov, Moreira, Prudêncio e Pereira, 2004) são os artigos que especificam os comportamentos requeridos de vários agentes do estado por ocasião do nascimento de uma criança em um hospital. O nascimento é a origem de uma seqüência de eventos encadeados e entrelaçados que termina com o registro da ocorrência em livro próprio pela enfermeira responsável.
Com maior freqüência leis estabelecem conseqüências aversivas e visam controlar comportamentos via punição. O Código Penal autoriza agentes do Estado a aplicar a punição. Algumas leis visam incentivar comportamentos desejáveis, do ponto de vista de quem redige a lei, e prescrevem conseqüências positivas para tais comportamentos. Em outros casos é a ausência de comportamentos que é punida ou recompensada, como a omissão de socorros (cadeia para quem deixa de prestar socorros) e a poupança voluntária (pagamento de juros para quem não gasta e deixa o dinheiro na poupança). Algumas leis apenas descrevem melhor regras para comportamentos que já ocorrem na sociedade – são as leis que pegam. Outras propõem mudanças nas práticas culturais existentes, e são mais duras de pegar. Nossa Constituição de 1988 foi classificada de utópica por um jurista estrangeiro que me visitou há dois meses por conter muitas especificações de mudanças em práticas culturais vigentes. Não é um texto que descreve relações sociais vigentes. Em grande parte descreve para onde deve mudar a nação. Um bom exercício para analistas do comportamento interessados no assunto é identificar no texto da Constituição contingências de dois e de três termos, metacontingencias e conjuntos integrados de metacontingencias.
Glenn, S. S. (1986). Metacontingencies in Walden Two. Behavior Analysis and Social Action, 5, 2-8.
Todorov, J. C. (1987). A Constituição como metacontingência. Psicologia: Ciência e Profissão, 7, 9-13.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O QUE É TEORIA E O QUE NÃO É EM ANÁLISE DO COMPORTAMENTO.

A linguagem teórica da analise do comportamento é o cimento que une todos os tipos de atividades compreendidas sob essa rubrica, marca, ou o que seja. A análise do comportamento tem alguns pontos muito distintos de outros que prosperam na psicologia, como pesquisas de laboratório animal com análise experimental do comportamento de indivíduos (n = 1) – mas não é apenas análise experimental do comportamento de indivíduos, nem no laboratório, nem no consultório clínico. Sua marca mais distinta é sua linguagem teórica.

Experimentação com n = 1 é a grande contribuição de Skinner para a psicologia experimental dos anos 30 do século passado. Trouxe de seus estágios nos principais laboratórios de biologia de Harvard. Junto com a taxa de respostas por unidade de tempo e os esquemas de reforço intermitente, forma o trio de ouro de Skinner.

Mas nem ele ficou só na análise experimental do comportamento de organismos individuais (n = 1). Principalmente Skinner logo de início em Ciência e Comportamento Humano mostrou como se pode avançar analisando exemplos da vida diária à luz da teoria. E é essa teoria, que começa a ser desenvolvida em O Comportamento dos Organismos (1938) e continua sendo desenvolvida até hoje, e continuará a ser desenvolvida pela futuras gerações, que faz a conexão entre os diferentes campos de atuação da análise do comportamento: pesquisa básica, pesquisa aplicada, atuação profissional, análise funcional, análise conceitual, etc.

Não concordo com classificações da análise do comportamento que parecem existir para justificar erros do passado. Um triângulo com teoria em uma ponta, pesquisa básica no outro, e pesquisa aplicada no terceiro, com comunicação de mão dupla em tudo, é um desses erros que parece existir para justificar decisões tomadas no passado longínquo e que nos atrapalham até hoje. Atrapalham mas parece ser tabu falar disso. Vejo um V invertido, com a teoria acima, no vértice, que se comunica em mão dupla com os dois lados, o da pesquisa e o da atuação profissional. Não há comunicação entre pesquisa e atuação profissional a não ser via vértice, a teoria. Da mesma forma a atuação profissional alimenta a pesquisa via teoria.

Vamos aos erros do meu ponto de vista.

# 1 – Ficar só no periódico Journal of the Experimental Analysis of Behavior de início (1958). Ele era necessário para fugir da ditadura estatística do Journal of Experimental Psychology – o periódico experimental de maior prestígio da época - mas se fosse mais geral seria melhor, pois seria lido por todos e provavelmente teria promovido um desenvolvimento mais harmônico da análise do comportamento. O título e as normas para publicação ajudaram a montar uma barreira para os de fora em lugar de apenas proteger os de dentro.

# 2 – Criar o Journal of Applied Behavior Analysis (1968) como uma extensão do Journal of the Experimental Analysis of Behavior, para não ter que continuar publicando provas de que o reforçador reforça. As normas para publicação continuaram praticamente as mesmas, com adendos sobre importância prática e relevância social. Mas continuamos só com análise experimental do comportamento de indivíduos (n=1).

# 3 – Achar que com isso a análise do comportamento estava logicamente dividida em dois – pesquisa básica e análise aplicada, sempre com n = 1. Essa foi uma divisão de poder entre o JEAB o JABA, os modificadores do comportamento dos anos 60. Donald Baer ditou um conjunto de regras que tornou distintos os trabalhos do JABA. Os dois grupos quase não se misturam até hoje.. Por isso não gosto das classificações da análise do comportamento existentes. Não é por ai.

# 4 – A maior parte dos escritos de Skinner a partir dos anos 60 é muito política. Só um pequeno grupo que se identifica como Behaviorists for Social Responsibility continua esse trabalho, e para publicar foi necessário criar outra revista, atualmente intitulada Behavior and Social Issues. Essas divisões do grupo nos deixam muito frágeis aos ataques que sofremos vindo de esquerda, centro, direita, etc.

# 5 - Ignorar o resto da psicologia ou fazer de conta que análise do comportamento é outra ciência. Ao fazer isso perdemos uma oportunidade única. Ninguém mais tem como campo de ação tudo o que é coberto pelas chamadas ciências do comportamento, incluindo toda a psicologia, pois para nós onde houver comportamento, estaremos lá.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

ABORDAGENS DINAMICAS EM ANALISE DO COMPORTAMENTO

Em interações comportamento-ambiente (Harzem & Miles, 1978, Todorov, 1989-2007) certas alterações ambientais que ocorrem como conseqüência de algum comportamento agem para manter ou mudar esse comportamento. Uma das tarefas da análise do comportamento é entender como isso ocorre (mas não é a única nem necessariamente a mais importante). Skinner (1938, 1953) trabalhou com um modelo de explicação de unidades discretas – respostas e classes de respostas, assim como Sidman trabalha com classes de equivalência de respostas, estímulos e reforços, todos eventos discretos. Mais recentemente abordagens dinâmicas têm sido oferecidas por analogia com a física (Killeen, 1992, Marr, 1992, 2006, Davison, Elliffe & Marr, 2010). Até recentemente uma contingência era definida como uma sentença do tipo ^se..., então^, e tida como a principal variável independente da psicologia experimental (Todorov, 1982, 1989, 1991, 2002, 2004). Da maneira como sempre foi usada, a contingência resulta em funções de feedback molares, por natureza um sistema dinâmico (Davison et al., 2010).
Em pesquisas típicas de analise experimental do comportamento, quando uma função de feedback relaciona taxa de respostas com taxa de reforços, normalmente perguntamos como mudanças em taxas de reforços mudam taxas de respostas. O caso óbvio é o do esquema de razão fixa, no qual há uma proporcionalidade entre aumentos na taxa de respostas e aumentos na taxa de respostas. Há uma função de feedback positivo que gera altas taxas de respostas mesmo para razões fixas de baixo requisito de respostas e grandes pausas, com taxas de respostas iguais a zero, para razões fixas muito altas.
Há funções de feedback negativo que são bem conhecidas, como os esquemas de reforço de baixas taxas de respostas (drl), nos quais aumentos nas taxas de respostas produzem diminuição nas taxas de reforços (Ferster & Skinner, 1957) e conseqüentemente diminuições nas taxas de respostas aumentam as taxas de reforços, resultando em taxas baixas em estados estáveis (Sidman, 1960). Do ponto de vista do procedimento o que se faz é fixar um valor t de tempo mínimo entre duas respostas consecutivas para que a segunda possa ser reforçada. Na Teoria dos Sistemas Dinâmicos (Davison, Elliffe & Marr, 2010) esses equilíbrios dinâmicos são chamados de atractores.
Se tudo isso parece muito estranho para você, recomendo ler o que M Jackson Marr andou escrevendo nos últimos 20 anos.

Referencias bibliográficas e leituras recomendadas.

Baum, W. M. (1989). Quantitative prediction and molar description of the environment. The Behavior Analyst, 12, 167–176.
Davison, M., Ellife, D., & Marr, M. J. (2010). The effects of a local negative feedback function between choice and relative reinforcer rate. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 94, (2), 197-207.
Davison, M., & Alsop, B. (1991). Behavior-dependent reinforcer-rate changes in concurrent schedules: A further analysis. Journal of the Experimental Analysis of
Behavior, 56, 1–19.
Davison, M., & Kerr, A. (1989). Sensitivity of time allocation to an overall reinforcer rate feedback function in concurrent interval schedules. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 51, 215–231.
Ferster, C. B., & Skinner, B. F. (1957). Schedules of reinforcement. New York: Appleton-Century-Crofts.
Harzem, P., & Miles, T.R. (1978). Conceptual issues in operant psychology. New York: John Wiley & Sons.
Killeen, P. R. (1992). Mechanics of the animate. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 57, 429–463.
Marr, M. J. (1992). Behavior dynamics: One perspective. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 57, 249–266.
Marr, M. J. (2006). Food for thought on feedback functions. European Journal of Behavior Analysis, 7, 181–185.
Sidman, M. (1960). Tactics of scientific research. New York, NY. Basic Books.
Skinner, B. F. (1938). The behavior of organisms. New York, NY Appleton-Century-Crofts.
Skinner, B. F. (1953). Science and human behavior. New York, NY. McMillan.
Soto, P. L., McDowell, J. J., & Dallery, J. (2006). Feedback functions, optimization, and the relation of response rate to reinforcement rate. Journal of the Experimental
Analysis of Behavior, 85, 57–81.
Todorov, J. C. (1982). Behaviorismo e análise experimental do comportamento.
Cadernos de Análise do Comportamento, 3, 10-23.
Todorov, J. C. (1989;2007). A psicologia como o estudo de interações. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 23 (especial), 57-61.
Todorov, J. C. (1991). O conceito de contingência na psicologia experimental. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 7 (1), 59-70.
Todorov, J. C. (2002). A evolução do conceito de operante. Psicologia: Teoria. e Pesquisa.18 (2).
Todorov, J. C. (2004). Da Aplysia à Constituição: Evolução de conceitos na análise do comportamento. Psicologia: Reflexão e Crítica, 17 (2), 151-156.
Todorov, J. C., Souza, D. G., & Bori, C. M. (1993). Momentary maximizing in concurrent schedules with a minimum interchangeover interval. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 60, 415-435.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

PORQUE ANÁLISE DO COMPORTAMENTO NÃO É SÓ ANÁLISE EXPERIMENTAL DO COMPORTAMENTO.

Não há sentido, em discutir análise experimental do comportamento sem primeiro falar de análise do comportamento. E para entender-se análise do comportamento é necessário examinar algumas das premissas sustentadas por Skinner e associados e aceitas por aqueles que se denominam analistas do comportamento. Vejamos algumas dessas premissas:

"Os homens agem sobre o mundo, modificam-no, e, por sua vez, são modificados pelas conseqüências de sua ação". (Skinner, 1957/1978, p.15)

"A psicologia... é o estudo da interação entre organismo e ambiente". (Harzem e Miles, 1978, p.47).
"Através de análise, os psicólogos chegam aos conceitos de estímulo e resposta. Um estímulo pode ser provisoriamente definido como 'uma parte, ou mudança em uma parte, do ambiente', já uma resposta pode ser definida como 'uma parte, ou mudança em uma parte, do comportamento. Devemos reconhecer, entretanto, que um estímulo não pode ser definido independentemente de uma resposta". (Keller e Schoenfeld, 1950/1966)

Com estes pressupostos, e sem descartar a priori quaisquer fontes de informação, a análise do comportamento desenvolveu-se como uma linguagem da psicologia, aperfeiçoou métodos de estudo para questões tradicionais da psicologia, abriu novos campos de pesquisa e gerou tecnologias em uso por toda parte. Já se escreveu muito sobre os métodos da análise do comportamento, e as descrições são aproximadamente as mesmas, variando apenas na ênfase dada a estes ou aqueles aspectos (e.g., Skinner, 1980; Honing, 1976; Honig & Staddon, 1977; Lattal & Chase, 2003; ). Tais métodos são utilizados por um grupo de pesquisadores, um grupo de dimensões razoáveis, que vem crescendo desde os anos 50.
Como resumido por Honing (1966), seus métodos de trabalho na pesquisa caracterizam-se pela utilização conjunta dos seguintes aspectos quando o trabalho é de análise experimental:
1- Estudo intensivo do comportamento do indivíduo.
2- Controle estrito do ambiente experimental.
3- Uso de uma resposta repetitiva que produz pouco efeito imediato no ambiente.
4- Meios eficazes de controle do comportamento do sujeito.
5- Observação e registro contínuo do comportamento.
6- Programação de estímulos e registro de eventos automáticos

É interessante notar que as características dos métodos utilizados geralmente referem-se apenas à análise experimental do comportamento animal. Essa caracterização é falha, e por vários motivos:

1- Não há sentido em descrições que confundam análise do comportamento com análise experimental do comportamento animal. Ao apontar as virtudes destas, Skinner foi claro:

"O comportamento humano se caracteriza por sua complexidade, sua variedade, e pelas suas maiores realizações, mas os princípios básicos não são por isso necessariamente diferentes. A ciência avança do simples para o complexo: constantemente tem que decidir se os processos e leis descobertos para um estágio são adequados para o seguinte. Seria precipitado afirmar neste momento que não há diferença essencial entre o comportamento humano e o comportamento de espécies inferiores; mas até que se empreenda a tentativa de tratar com ambos nos mesmos termos, seria igualmente precipitado afirmar que há".(Skinner, 1953/1967 p.47)

Uma análise experimental do comportamento animal é, então, uma parte, e não necessariamente a inicial, do trabalho. E não é um fim em si mesma.

2- As caracterizações normalmente ignoram análise conceitual como parte de uma análise do comportamento. Entretanto, é fácil constatar o quanto da contribuição de Skinner à psicologia tem a ver com o que Harzem e Miles denominam "o comportamento lógico dos conceitos". Veja-se, por exemplo, além de "Ciência e Comportamento Humano", "Sobre o Behaviorismo", e os trabalhos de Evalyn Segal (1977), de George Robinson (1977), de Emílio Ribes (2003) e de Sigrid Glenn (2003)..
3- Muito do progresso obtido pela análise do comportamento deve-se a análises funcionais não experimentais. Seguramente, mais da metade dos escritos de Skinner refere-se a análises funcionais não-experimentais, isto é, à identificação (ou tentativa) de variáveis dependentes e independentes, e de processos de interação em exemplos de comportamento humano. Veja-se como ilustração, as seções "O indivíduo como um todo", "O comportamento de pessoas em grupo" e "Agências controladoras", em "Ciência e comportamento humano" (Skinner, 1978) e o livro "Contingências de reforço (Skinner, 1980).
4- A análise do comportamento já não pode ser resumida ao "grupo do Journal of the Experimental Analysis of Behavior". Mesmo os trabalhos de análise experimental animal não são, há mais de 15 anos, exclusividade dessa revista, e nunca o foram totalmente. No momento, os trabalhos lá publicados representam apenas uma pequena parcela do que se publica em outras revistas, especializadas ou não em análise do comportamento, e em várias línguas.
5- Intentos de caracterização da análise do comportamento muitas vezes confundem aspectos com análise com idiossincrasias do analista. Os trabalhos de Skinner, por exemplo, podem ser vistos sob diferentes prismas: há trabalhos de análise experimental, de análise conceitual, de análise funcional não experimental, e há trabalhos de prescrição moral. Poucos analistas do comportamento admitiriam, entretanto, que prescrições morais caracterizam a análise do comportamento.
6- Questões ideológicas muitas vezes confundem caracterizações da análise do comportamento, especialmente quando o aspecto ideológico não é explicado. Vale ressaltar que isso quase sempre acontece quando se discute a resolução de problemas práticos por psicólogos que se utilizam de uma análise do comportamento. Neste ponto, devemos admitir que a ideologia dominante em uma sociedade dirige tanto os esforços de pesquisa quanto os de aplicação. Quando questões ideológicas não são explicitadas e analisadas, corremos o risco de confundir pressupostos básicos da análise do comportamento com características ideológicas de uma determinada sociedade.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A morte do behaviorismo

O behaviorismo tem sido dado como morto e enterrado por muitos autores nos últimos cinqüenta anos, especialmente com o advento da Psicologia Cognitiva. Em seu livro "Behaviorism and the limits of scientific method", Mackenzie fala do behaviorismo no passado, apesar de conceder sua grande importância na psicologia moderna. Mas atribui sua importância ao fato de haver falhado ao tentar construir uma ciência da psicologia pelo uso de regras e procedimentos detalhados e explícitos, os quais seriam resultado das análises mais rigorosas e sofisticadas da lógica da ciência. Mackenzie trata o behaviorismo como um movimento, o que é, no mínimo, uma temeridade. Diz que o behaviorismo baseou-se grandemente em uma abordagem agressivamente objetiva dos problemas da psicologia (estaria falando só de Watson ou de Tolman também?); que ganhou o apoio da maioria dos psicólogos que tiveram contato com ele (esquecendo-se de mencionar quais psicólogos, quais lógicos, em qual época, e sobre quais aspectos dos vários behaviorismos); que continuou a atrair novos adeptos e a desenvolver novos métodos de investigação durante os quarenta ou cinqüenta anos nos quais dominou a psicologia, gerando enorme quantidade de pesquisas cuidadosas e sofisticadas e, sem contudo, produzir um corpo significativo de conhecimento científico duradouro que possa ser comparado ao que se verifica em outras ciências (não especifica o que quer dizer com "um corpo significativo de conhecimento científico; seria uma teoria axiomatizada, como a física atômica ainda não tem?). Mackenzie continua para afirmar que, como não produziram resultados em larga escala, as grandes teorias behavioristas foram praticamente abandonadas (desde quando se pode jogar Hull e Skinner no mesmo balaio?).
A análise do comportamento, que não se limita à análise experimental do comportamento, origina-se de uma posição behaviorista assumida por Skinner por motivos mais históricos que puramente lógicos. Skinner parte da constatação de que há ordem e regularidade no comportamento. Um vago senso de ordem emerge da simples observação mais cuidadosa do comportamento humano. Estamos todos continuamente analisando circunstâncias e predizendo o que os outros farão nessas circunstâncias, e nos comportamos de acordo com nossas previsões. Fosse possível, isto é, se as interações entre os indivíduos fossem caóticas, simplesmente não estaríamos aqui. O estudo científico do comportamento aperfeiçoa e completa essa experiência comum, quando demonstra mais e mais relações entre circunstâncias e comportamentos, e quando demonstra as relações de forma mais precisa (Skinner, 1953/1967).
Quando Skinner explicitou um programa de trabalho para o desenvolvimento de uma ciência do comportamento, previu uma análise experimental do comportamento como um dos aspectos de um empreendimento maior. Vejamos o que diz em "Ciência e comportamento humano", publicado originalmente em 1953 (Skinner, 1953/1967):

"As variáveis externas, das quais o comportamento é função, dão margem ao que pode ser chamado de análise causal ou fundamental. Tentamos prever e controlar o comportamento de um organismo individual. Esta é a nossa 'variável dependente' - o efeito para o qual procuramos a causa. Nossas 'variáveis independentes' - as causas do comportamento - são as condições externas das quais o comportamento é função. Relações entre as duas - as 'relações de causa e efeito' no comportamento - são as leis de uma ciência" (Skinner, 1953/1967, p.45).

Para Skinner, o material a ser analisado provém de muitas fontes, das quais a análise experimental do comportamento é apenas uma delas. Skinner aponta a utilidade de observações casuais, observação de campo controlada, observação clínica, observações controladas do comportamento em instituições, estudo em laboratório do comportamento humano, e por fim, estudos de laboratório do comportamento de animais abaixo do nível humano.
REFERÊNCIAS

Harzem, P. & Miles, T.R. (1978). Conceptual issues in operant psychology. Chichester, Inglaterra: Wiley.
Mackenzie; B.D. (1977). Behaviorism and the limits of scientific method. Atlantic Highlands, N.J., Humanities Press.
Skinner, B. F. (1953/1967). Science and human behavior. New York: McMillan. Tradução para o português de J. C. Todorov & R. Azzi, Ciência e comportamento humano. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1967.

domingo, 22 de agosto de 2010

O curso introdutório de analise do comportamento na UnB.

O primeiro curso de analise do comportamento na Universidade de Brasília começou em agosto de 1964 com o nome de Introdução a Analise do Comportamento 1, continuando com o IAEC 2 em março de 1965. O grupo original liderado por Fred Keller e Carolina Bori se dissolveu, mas o IAEC 1, o semestre introdutório para o qual o PSI foi desenvolvido, sobreviveu. Hoje em quase todos os cursos de psicologia no Brasil há alguma versão dele. Em muitos casos é o único contato que o aluno tem com a análise do comportamento durante os cinco anos de seu curso. Com freqüência, os alunos são expostos apenas aos primeiros capítulos de Ciência e Comportamento Humano, juntamente com capítulos do K&S ou de algum de seus sucedâneos (Baum, 1994; Catania, 1998; Millenson, 1967), em um curso de um semestre apenas. Mais recentemente tem crescido o uso de um livro novo, Princípios Básicos de Análise do Comportamento (Moreira & Medeiros, 2007). A experiência com o IAEC 2, o segundo semestre baseado inteiramente em dados sobre o comportamento humano e na segunda metade de Ciência e Comportamento Humano, se perdeu.
Partes do livro são usados, contudo, em diversas outras disciplinas, de psicologia
do desenvolvimento à psicologia organizacional. À medida em que a análise de práticas culturais torna-se matéria de interesse para os analistas do comportamento (Biglan, 1995; Guerin, 1994; Lamal, 1997; Sidman, 1989), Ciência e Comportamento Humano continuará a ser uma inspiração para os interessados em todos os aspectos do comportamento social humano. Na verdade, as seções sobre as agências controladoras são mais relevantes agora do que no século passado. Skinner estava escrevendo sobre o governo durante os primeiros anos da Guerra Fria. É interessante notar que, ao contrário de obras de ficção da época sobre governos totalitários (Orwell, 1949, por exemplo), Skinner analisa controles e contra-controles durante o funcionamento imperfeito de sistemas democráticos -- imperfeitos na medida em que um sistema democrático envolve um balanceamento contínuo de controles e contra-controles. As ditaduras, por outro lado, desenvolvem todos os esforços para tornar difícil o contra-controle.
As análises de Skinner tratam do funcionamento de governos democráticos, de
convivência sem coerção, mas no Brasil seu nome acabou associado politicamente com a direita, em grande parte pela publicação da tradução de seu livro Beyond Freedom and Dignity (Skinner, 1971). O título original do livro já é terrivelmente enganoso (Além da Liberdade e da Dignidade). Permite a interpretação de que o autor trata os conceitos de liberdade e dignidade de maneira negativa, se não pejorativa. A tradução para o português foi um desastre: O Mito da Liberdade. Com esse título muitos odeiam o livro mesmo sem ter lido, o que é uma pena. Quem tinha lido Ciência e Comportamento Humano não se deixou assustar pelo título original, pela tradução, nem pelas reações de quem não leu. A essência democrática de Skinner já estava neste livro.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Quem é behaviorista radical?

Não vejo sentido hoje em textos que se identificam com o behaviorismo radical. O adjetivo foi usado por Skinner para afirmar-se contrario a posições de teóricos como Boring. No presente século não há behaviorismos outros que não o skinneriano. Falar em radical só complica o ouvinte. O texto a seguir, que poderia ter por titulo "Porque Não Sou Um Behaviorista Radical", se apóia em minhas publicações anteriores e em artigo em preparação.
A análise do comportamento não é uma área da psicologia, mas uma maneira de estudar o objeto da psicologia. Este trabalho traduz uma visão pessoal e tenta esclarecer os significados dos termos "behaviorismo", "análise do comportamento" e "psicologia". Para tanto recorremos a Harzem & Miles em "Conceptual Issues in Operant Psychology" (1975). O termo "behaviorismo" tem sido utilizado de diversas maneiras e de tal modo que se pode afirmar que há muitas variedades de significado para ele. Desde o manifesto de Watson, muitas características foram atribuídas ao termo. Muitas delas perderam-se no tempo ante críticas irrespondíveis, outras permanecem. Para Harzem e Miles a palavra behaviorismo tem uma "família de significados", e por isso, além de desnecessário, é um equívoco esperar-se encontrar o seu "verdadeiro" significado. Portanto, a menos que se faça a distinção entre as diversas variedades de significado, não é útil proclamar-se "a favor" ou "contra" o behaviorismo.
Harzem e Miles utilizam uma classificação defendida por Mace (1948) para as variedades de behaviorismo: metafísico, metodológico e analítico. O behaviorismo metafísico afirma que mentes ou eventos mentais não existem; o behaviorismo metodológico afirma que se mente ou eventos mentais existem, não são objetos apropriados para o estudo científico; e o behaviorismo analítico afirma que os enunciados feitos com o propósito de se referir à mente ou eventos mentais tornam-se, quando analisados, enunciados acerca do comportamento. Harzem e Miles argumentam que as discussões sobre o behaviorismo metafísico e o behaviorismo metodológico são o resultado de erros conceituais, e que tanto a aceitação quanto a rejeição de um ou de outro são igualmente (e logicamente) injustificáveis. O behaviorismo analítico é diferente dos outros dois tipos porque suas proposições têm caráter claramente conceitual. A tese central afirma que sentenças a respeito de mentes e eventos mentais requerem uma tradução para sentenças sobre o comportamento. O behaviorismo analítico, neste sentido, é uma proposta conceitual: não é uma teoria sobre o que deve ser estudado, nem é um conjunto de instruções sobre como se deve ser estudado, nem é um conjunto de instruções sobre como se deve fazer pesquisa.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Dedicatoria de Skinner a Keller no livro Ciencia e Comportamento Humano.

Caro Fred,

Se estivéssemos no século 18, eu poderia ter escrito uma dedicatória que seria entendida por qualquer pessoa. Como não é esse o caso, eu posso apenas falar à deux (a dois).“Para F. S. KeIler” significa “Obrigado por muitas coisas” - no fim dos anos vinte pela única brisa de behaviorismo em Harvard — nos anos trinta por nunca faltar com o apoio e por reforços muito necessários (o que o leigo, coitado, pode apenas chamar de fé) - e nos quarenta por mostrar como uma ciência do comportamento pode ser ensinada. “Ciência e Comportamento Humano” pôde ser escrito somente porque “Princípios de Psicologia” de KeIler & Schoenfeld foi publicado primeiro.

Um brinde aos anos 50 e 60!

Burrhus

Fevereiro de 1953

A dedicatória acima reproduzida (com minha tradução) foi escrita por Skinner em uma das primeiras cópias de seu livro recém lançado (Skinner, 1953). Tenho esse exemplar graças a Mrs. Frances Keller (Dona Frances) e seu filho, John V. Keller. A dedicatória de Skinner a Fred Keller mostra a importância da amizade deles para o desenvolvimento intelectual e científico de ambos. Princípios de Psicologia (Keller & Schoenfeld, 1950) foi um marco na história da análise do comportamento, tendo preparado o terreno para Ciência e Comportamento Humano (Skinner, 1953/1967). Naturalmente, esses livros foram dos primeiros a serem traduzidos para o português. No quadragésimo aniversário da publicação de Princípios de Psicologia (K&S) escrevi sobre sua importância para a introdução do behaviorismo no Brasil (Todorov, 1990).

terça-feira, 27 de julho de 2010

Análise do Estatuto da Criança e do Adolescente.

No site walden4 de Márcio Borges Moreira pode ser visto trabalho com minhas alunas de iniciação científica (Maísa) e de mestrado (Gisele e Mara) sobre o ECA - estastuto da criança e do adolescente:

http://www.walden4.com.br/metacontingencias_e_o_eca/index.html

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Como promover ambiente de paz nas escolas.

FORUM PELA PAZ NAS ESCOLAS
Apresentação e Discussão do Projeto Paz nas Escolas

Cátedra UNESCO do IESB sobre Desafios Sociais Emergentes.

Parceiros:

CNPq
Instituto Nacional sobre Comportamento, Cognição e Ensino (INCT ECCE), com sede na Universidade Federal de São Carlos.
Universidade de Brasília

Apoios:
Universidade Federal do Pará
Universidade de São Paulo
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Palestrantes:
Prof. Dr. Mark Mattaini, Illinois State University at Chicago, Estados Unidos.

“O Poder da Paz”.

Comentaristas:
Profa. Dra. Sigrid S. Glenn, North Texas University, Estados Unidos.
Profa. Dr. Inguun Sandaker, Akershus University College, Noruega
Prof. Dr. Telmo Eduardo Peña Correal, Universidad Nacional de Colombia.

Dias 5 e 6 de Agosto, de 9 às 17 horas, no Campus Oeste do IESB

Comissão Organizadora:
Prof. Dr. João Claudio Todorov (IESB),
Profa. Dra. Laércia Abreu Vasconcelos (UnB),
Profa. Dra. Elenice Seixas Hanna (INCT ECCE).

terça-feira, 29 de junho de 2010

Receita para ser feliz: não saber que não sabe.

No dia 18 de junho, em um evento realizado pela organização “Movimento Orgulho Autista Brasil” no IESB, um conferencista apresentava os pormenores de sua abordagem com crianças diagnosticadas como autistas quando explicitou a vantagem do que fazia sobre a análise do comportamento (que ele chamou de “método ABA”):
“Não usamos condicionamento nem adestramento”.
Ao saber disso lembrei-me de uma seqüência de artigos no jornal New York Times sobre o que não sabemos que não sabemos.
htpp://opinionator.blogs.nytimes.com/2010/06/20/the-agnosognosics-dilemma-1/
Um médico que ignora que não sabe tudo sobre uma doença tende a dar o diagnóstico mais simples e errado com muita convicção. O advogado mal preparado tende a não usar um argumento chave para ganhar a causa por não saber que o argumento existe. O psicólogo que afirmou com tanta certeza que não usa condicionamento nem adestramento em frente de analistas do comportamento é um exemplo de alguém que não sabe que não sabe.
Ele não sabia que não sabia o que é análise do comportamento.
Ele não sabia que o método que usa aproveita técnicas desenvolvidas pela análise do comportamento, como a escolha conforme o modelo (matching to sample).
Parte da culpa por erros como esse é nossa. Já falei sobre isso em “Controle aversivo e interações entre operantes e respondentes” abaixo, dia 19 de abril de 2010. Está na hora de parar de usar termos pavlovianos quando falamos em comportamento operante. Eu uso comportamento quando falo de operantes e reflexo quando falo de respondentes. Vamos restringir o termo condicionamento ao seu sentido original, como os leigos o usam. Trabalhamos com condicionamento reflexo e aprendizagem operante.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O QUE A BALEIA SHAMU ENSINOU À JORNALISTA SOBRE A VIDA, AMOR E CASAMENTO

Mais um exemplo de contribuição da análise do comportamento que está virando senso comum. O livro “O que a baleia Shamu me ensinou sobre a vida, amor e casamento” da jornalista Amy Sutherland foi best-seller nos Estados Unidos e está disponível em português. Em 2008 a autora recebeu um prêmio da Association for Behavior Analysis International pela difusão da análise do comportamento na mídia. Esse trabalho da Amy não foi planejado. Estava pesquisando em zoológicos para escrever um livro sobre treinamento de animais e não sabia nada de aprendizagem ou psicologia. Ficou impressionada com as técnicas usadas e resolveu usá-las para mudar alguns dos maus hábitos de seu marido. Relatou seu sucesso em um artigo escrito para o New York Times e publicado em 25 de junho de 2006. O jornal americano possibilita a seus leitores o acesso online e a escolha de artigos que queiram distribuir a seus amigos, e mantém uma contagem dos artigos mais populares. A história da baleia Shamu foi a mais distribuída em junho. Continuou a ser difundida na internet e acabou sendo o artigo mais lido no ano. Daí a virar livro foi um passo, muito vendido até hoje em vários países. Antes de virar livro e best-seller o trabalho da Amy Sutherland foi citado no prefácio que escrevi para o livro “Princípios básicos de análise do comportamento” de Márcio Borges Moreira e Carlos Augusto de Medeiros, publicado em 2007 pela Artmed.

sábado, 15 de maio de 2010

Tudo é fácil quando você sabe como fazer.

Operantes complexos: demonstrações de encadeamento de respostas em ratos.



O video mostra a formação de um encadeamento de respostas em um esquilo que lembra o que apresentei na reunião da Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência – SBPC - ocorrida em Ribeirão Preto, Estado de São Paulo, em julho de 1964 (Todorov, J. C. “Brasilino II: uma demonstração de encadeamento de respostas”.).

Brasilino II trabalhou (e fez seu professor trabalhar) uma hora por dia durante 30 dias para completar um encadeamento de 21 componentes. O último componente era pressionar uma barra dentro da caixa experimental e receber água como conseqüência. O primeiro era deixar a caixa experimental e se dirigir para uma escada vertical que o levava para o alto de uma estante com estrutura de barras de alumínio com1, 50 m de altura, com três prateleiras. No meu site https://sites.google.com/site/jctodorov/ a primeira foto mostra sua chegada na plataforma superior, dirigindo-se em alta velocidade para uma seqüência de pinos de metal que deveria ser percorrida, um pino pela esquerda, o seguinte pela direita, etc. Outros componentes incluíam saltar um aro de metal colocado a 15 cm do piso (a parte de baixo do aro aparece na foto no alto à esquerda), correr para uma plataforma e saltar o espaço vazio até a plataforma de descida (um pedaço da primeira plataforma aparece também no alto da foto à esquerda), descer pela escada lateral para a prateleira de baixo, etc., até um labirinto que tomava todo o piso inferior, penúltimo de 21 elos da cadeia.

Brasilino II foi treinado da frente pata trás, isto é, aprendeu primeiro a pressionar a barra para beber água. Em seguida aprendeu que a pressão à barra só era seguida por água quando uma campainha estivesse soando. Em termos técnicos, na contingência tríplice água foi o estímulo reforçador primário, pressão à barra a resposta operante e a campainha o estímulo discriminativo. O próximo passo foi usar a campainha como estímulo reforçador condicionado para a resposta de sair do labirinto e dirigir-se para a caixa experimental. O rato era colocado, sem som, na saída do labirinto e o som começava a tocar quando ele se dirigia para a caixa. Da mesma forma aprendeu para que lado virar em cada esquina do labirinto (havia cerca de 15 escolhas entre esquerda ou direita que tinha que fazer). Qualquer erro fazia o som parar, e o som só recomeçava quando Brasilino II retomava o caminho certo.
Brasilino II foi inspirado no rato Barnabus, ensinado por meu professor na USP J. Gilmour Sherman,(quando estudava na Columbia University de Nova Iorque, nos anos 50).
Comparações entre ensinar cadeia para trás, como fizemos com o Brasilino II, ou para frente, como fez o colega mexicano do vídeo, tem sido publicadas:

Borges, M. M., Simonassi, L. E., & Todorov, J. C. (1979). Comparação de dois procedimentos na aquisição de cadeias de respostas em humanos. Anais da IX Reunião Anual da Sociedade de Psicologia de Ribeirão Preto, p.107.

Borges, M. M. (1982). Efeitos de dois procedimentos na aprendizagem de cadeias comportamentais. Dissertação de Mestrado, (Psicologia), Universidade de Brasília.

Borges, M. M. & Todorov, J. C. (1985). Aprendizagem de cadeias comportamentais: uma comparação entre dois procedimentos. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 1 (3), 237-248.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Não adianta pintar a galinha de preto que ela não vira urubu: para o público, controle é coerção.


Controle para os analistas do comportamento é uma coisa, controle para os outros é outra coisa. Por “outros” quero dizer todos os psicólogos com a exceção dos analistas do comportamento. Temos concentrado nossos esforços no marketing das vantagens do controle por reforço positivo sobre o controle aversivo.
A luta dos outros psicólogos é contra o controle, mas eles não identificam reforço positivo como controle. Quando falamos “controle” eles entendem “coerção”. Também é raro encontrar-se esclarecimentos sobre as diferenças entre reforçadores arbitrários e reforçadores naturais (Moreira e Medeiros, 2007).

Controle, regulação e interação.

Somos todos contra o uso da coerção, assim como todos somos defensores dos
direitos humanos. Mas os analistas do comportamento não têm conseguido explicar que focinho de porco não é tomada. No lugar de controle a palavra regulação seria mais palatável para o público em geral. Controle é uma palavra de uso diário, com sentido negativo quando associada ao comportamento humano; não é adequada como termo técnico para descrever uma interação.

Controle e coerção.

Voltando à questão sobre controle e coerção. Dizemos que somos contra o uso de coerção, mas como o controle é inevitável, deve acontecer pelo uso de reforço positivo. Skinner até escreveu um livro sobre isso, “Walden two” (Skinner, 1948). Alguns analistas do comportamento o tomam como um projeto para uma sociedade perfeita. Alguns destes chegaram mesmo a organizar comunidades experimentais seguindo suas regras. Não precisamos de experimentos para mostrar os efeitos danosos da coerção. Skinner fez campanha contra o uso da punição sem recorrer a qualquer experimento importante (Skinner, 1953). Murray Sidman poderia ter escrito seu livro “Coerção” (Sidman, 2000) sem todos aqueles procedimentos experimentais que desenvolveu nos anos 50.
O controle aversivo tem conseqüências colaterais indesejáveis, mas quem foi que disse que o planejamento de nossa realidade foi inteligente? A maioria dos problemas que chegam para o psicólogo deriva de alguma maneira de exposição ao controle aversivo. Apesar disso usamos mais o nosso tempo ensinando aos alunos as maneiras conhecidas de uso do reforço positivo para mudar o comportamento operante.

Operantes e respondentes.

A maioria dos subprodutos indesejáveis do controle aversivo envolve respondentes. Mas como experimentos sobre controle aversivo foram praticamente banidos nos últimos 30 anos, temos poucos dados sobre o desenvolvimento em longo prazo do controle aversivo. E quando experimentos são publicados, geralmente envolvem apenas análise experimental do comportamento operante. Acabamos nos tornando superespecializados.

Interação operante-respondente.

Algumas leituras:

Cameschi, C. E. & Abreu-Rodrigues, J. (2005). Contingências aversivas e comportamento emocional. Em J. Abreu-Rodrigues & M. R. Ribeiro (Orgs.), Análise do comportamento: pesquisa, teoria e aplicação (pp.113-137). Porto Alegre: Artmed.
Moreira, M. B. e Medeiros, C. A. (2007). Princípios básicos de análise do comportamento. Porto Alegre: Artmed. Capítulo 5, p. 91-93.


Referências Bibliográficas

Moreira, M. B., & Medeiros, C. A. (2007). Princípios básicos de análise do comportamento. Porto Alegre: Artmed.
Sidman, M. (2000). Coertion and its fallouts. Revised edition. Boston, MA: Authors Cooperative Inc. Publishers.
Skinner, B. F. (1948). Walden two. New York, NY: McMillan.
Skinner, B. F. (1953). Science and human behavior. New York, NY: McMillan.




Só com função não iremos longe estudando processos de interação comportamento-ambiente.

A obra inicial de Skinner, de sua tese de doutorado em Harvard até a publicação de “O Comportamento Verbal” e “Esquemas de Reforço”, pode ser vista também como um programa de pesquisa científica, no sentido de Lakatos, a ser desenvolvido no futuro. Setenta anos depois, é hora de ver o que foi desenvolvido, o que não foi, e talvez encontrar inspiração para descobrir as causas do que não aconteceu (Todorov, 1989, 2007; Todorov & Moreira, 2009). Um possível ponto de partida para esse empreendimento foi dado por A. C. Catania, em artigo publicado na revista “American Psychologist” (Catania, 1973)

Catania aponta a ênfase excessiva nos aspectos de função na análise do comportamento, mas sua contribuição parece ter passado sem grande efeito, inclusive nos trabalhos do próprio autor. Se na psicologia estudamos processos de interação (Todorov, 1989; Todorov & Moreira, 2009), processos podem e devem ser estudados do ponto de vista de estrutura, função e de desenvolvimento.

Especialização em função.
Processos ocorrem no tempo, com princípio, meio e fim, ou ciclos de recomeço. Em qualquer processo de interação comportamento-ambiente é possível identificar aspectos estruturais, de desenvolvimento (seqüências de aspectos estruturais) e funcionais (como e por que as estruturas se sucedem). A análise do comportamento tem se especializado nos aspectos funcionais, com menos ou, à vezes, sem nenhuma ênfase nos aspectos estruturais e de desenvolvimento.

Comportamento humano
Na maioria dos casos de análise do comportamento humano as interações de interesse envolvem comportamento verbal. Entretanto, quando levamos a interação para o laboratório para uma análise experimental freqüentemente tentamos “limpar” as interações de qualquer contaminação verbal.

Estrutura de repertório sem comportamento verbal?
O participante não poder descrever no experimento a contingência que controlou seu comportamento não quer dizer que o comportamento verbal não é importante. Os refinados estudos de ações no cérebro paralelas ao comportamento humano observável possivelmente já podem nos dizer quando o participante está centrado na tarefa e quando gasta o tempo “pensando na morte da bezerra”. Muitas vezes descrevemos uma contingência como se apenas a afirmação de que a conseqüência era reforçadora fosse suficiente para o controle da resposta. Pontos para serem trocados por uma porção ínfima da nota raramente controlam qualquer coisa. Se o reforçador não reforça, o participante tem uma hora para se preocupar com coisas mais importantes, como a morte da bezerra. Pensar na bezerra não está atrapalhando o experimento. O que atrapalha é usar como reforçador algo que não reforça, como centavos para uma hora de trabalho. Por outro lado, usar uma tarefa completamente sem sentido é interessante apenas para evitar ter que verificar a linha de base, o comportamento de entrada na tarefa.

Referências Bibliográficas
Catania, A. C. (1973). The psychologies of structure, function and development. American Psychologist,
Todorov, J. C. (1989). A psicologia como o estudo de interações. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 5 (3), 347-356. Reimpresso em 2007, 23, número especial, 57-61.
Todorov, J. C. & Moreira, M. B. (2009). Psicologia, comportamento, processos e interações. Psicologia: Reflexão e Crítica, 22 (3), 404-412.



terça-feira, 13 de abril de 2010

Nível operante e aprendizagem significativa.

Em conversa com os professores Elenice Seixas Hanna e Marcelo Benvemuti tive um insight. O movimento pró estudos de aprendizag3em com significado (Ausubel, Gagné, Paulo Freire) do início dfos anos 60 é precedido por mais de 20 anos pelo conceito de nível operante, especialmente, saliente no início dos anos 50, com a reforma do ensino de psicologia experimental na Universidade de Columbia e com as publicações de Princípios de Psicologia, de Fred Keller & W. N. Schoenfeld, e de Ciência e Comportamento Humano, de B. F. Skinner. Aliás, a hierarquia de aprendizagens de Gagné parece estar implícita na sequência de capítulos do C & CH. Estou preparando capítulo para o próximo volume do "Sobre comportamento e cognição". Comentários e sugestões são bem recebidos.