O conjunto de relações
condicionais que regulam as interações comportamentais em uma sociedade
caracteriza sua cultura. Essas relações condicionais podem abarcar a sociedade
como um todo ou partes da sociedade, e são elas mesmas reguladas por agências
de controle, especializadas por tipo de interação ou por vários outros
critérios de desempenho:
1.
A família
é a agência encarregada dos relacionamentos pais/filhos, e atua primariamente
na construção de repertórios dos jovens que garantam sua inserção na sociedade
quando adultos.
2.
A escola
continua o trabalho de socialização iniciada pela família e deve preparar os
jovens para o trabalho e para o convívio harmonioso na sociedade.
3.
Os grupos
de amigos também funcionam como agências de controle, comunidades verbais
selecionadoras de práticas culturais.
4.
A religião
contribui para a estabilidade das relações comportamentais principalmente pelo
uso do comportamento verbal, palavras que adquirem o poder de reforçar ou punir
comportamentos pelo emparelhamento com promessas baseadas em fé.
5.
Os
processos psicoterápicos são necessários, e funcionam como agências de
controle, sempre que os controles exercidos por outras agências são excessivos
ou inconsistentes (Skinner, 1953, cap. XXIV).
6.
Governos
são as maiores agências de controle em todas as sociedades, com o papel de
regular a ação de todas as outras agências, da maneira como os pais tratam os
filhos, o que deve ser ensinado nas
escolas, e até onde pode ir o controle exercido pelas igrejas e como deve atuar
o profissional psicoterapeuta.
A origem do poder de
reforçar e punir.
Práticas culturais são mantidas por contingências sociais que prevalecem
em um determinado grupo, sociedade ou organização. Adquirimos comportamentos
que serão mantidos por contingências sociais por meio de interações que
envolvem agências controladoras, como a família, por exemplo. É um processo tão
longo e tão suave que o controle por consequências não é facilmente percebido.
•
Você não
escolheu nascer, mas mesmo assim é premiado pela escolha: a espécie humana te
dá um repertório inicial. Sugar o seio materno é o primeiro exemplo de
comportamento reflexo que se transforma em operante. É também um primeiro
exemplo de interação mantida por benefício mútuo. Se o bebê não suga, a mãe
sofre com o acúmulo de leite na mama; se a mãe não tem leite o bebê sofre com a
fome. Nenhuma interação social permanece
sem coerção se não for mutuamente satisfatória.
•
Qualquer
forma de coerção é ruim. Os subprodutos desse tipo de controle são indesejáveis
para o convívio sadio entre pessoas. Coerção sempre gera propensão para fuga do
assunto, da pessoa, do lugar, etc., e esquiva de oportunidades futuras de
situações coercitivas.
•
Crianças
são educadas de acordo com os padrões de uma cultura. Adquirem repertórios
mantidos por contingências sociais por meio de interações com a mãe,
cuidadores, família, e agências controladoras como a escola e a igreja. É
um processo longo que normalmente respeita o desenvolvimento biológico da
criança. O controle pode ser tão sutil a ponto de não ser facilmente percebido.
O estresse associado a cada nova aprendizagem modelada por contingências
sociais se dilui ao longo de anos ou décadas. O caráter aversivo do controle
por consequências se torna parte da vida.
•
Um exemplo
extremo da sutileza do controle social de hábitos e costumes é relatado por
Elias (1939/1994), a propósito do casamento de um doge de Veneza com uma
princesa grega. A princesa usava um pequeno garfo de ouro com dois dentes para
comer, para escândalo dos venezianos, que comiam com as mãos. Foi severamente
repreendida pelas autoridades, que invocaram a ira divina.
“O grupo exerce um controle ético sobre cada um de seus membros através,
principalmente, de seu poder de reforçar ou punir.” ... “Talvez o mais óbvio
tipo de agência empenhada no controle do comportamento humano seja o governo.
Os estudos tradicionais de ciência política lidam com a história e as propriedades
dos governos, com vários tipos de estrutura governamental, e com as teorias e
princípios que têm sido oferecidos para justificar as práticas governamentais.
... Temos que examinar o comportamento resultante no governado e o efeito desse
comportamento que explica porque a agência continua a controlar.” (Skinner, 1953/2003, Cap. XXII).
BIBLIOGRAFIA
Elias, N. (1939/1994). O processo civilizador. Volume1, A história dos
costumes. Tradução de R. Jungmann. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
Skinner, B. F. (1953/2003). Ciência e comportamento humano. Tradução de
J. C. Todorov e R. Azzi. São Paulo: Martins Fontes.